
O
Juiz que mora dentro de nós.
Todos nós, mesmo que nunca tenhamos observado
com clareza, já pudemos sentir as conseqüências de
nosso autojulgamento. Ele sempre nos massacra, nos
condena e nos impõe uma punição.
Há um juiz dentro de nós e que foi ali colocado
pela sociedade, com a nossa própria permissão, que é
um verdadeiro obcessor, ou seja, é uma entidade originária
de nossa própria criação.
Ele não faz parte de nossa essência, mas é uma
construção social, para que você, como ser único e
individual se adapte e se molde às regras sociais, pois
se você não viver de acordo com as normas da
sociedade, você poderá causar problemas a ela.
Na infância, o juiz interno pouco se manifesta,
pois ele ainda está em construção. Nesta época, os
maiores juízes são os externos: os pais, professores,
padres, etc., que pensam poder moldar-nos e de certa
forma criam um núcleo de manipulação, agindo em nós
através da culpa e do medo. À medida que vamos
crescendo, vamos incorporando ao nosso interior, ou
melhor, ao nosso ego, todos aqueles pré-julgamentos e
julgamentos que nos fizeram e que de uma certa forma
aceitamos e permitimos que exercessem influência em
nossa forma de agir e pensar. Aí, neste exato ponto é
que começamos a nos autotorturar, por esta entidade
criada, que não tem vida própria, que precisa ser
alimentada a todo o tempo, que faz parte de nosso ego e
é capaz de ditar-nos regras. Se tentarmos reagir a
estas regras e imposições sentiremos uma dor profunda
que vem do sentimento de culpa, da condenação.
O Juiz tem muitas frases prontas, que coloco aqui
somente para exemplificar:
- “Isso não se faz!”.
- “Faça o que é certo!”.
- “Isso não é educado!”.
-Você será condenado!
- “Você tem que...”.
O juiz não lhe dá paz, coloca rótulos, tem
leis, martelo. Ele vigia você vinte e quatro horas por
dia.
Como nós não conseguimos nos enquadrar em todos
os padrões e leis, nos sentimos culpados. Carregamos
culpa e condenação que podem se somatizar com o passar
do tempo, podem nos deixar vivendo longe de nossa própria
essência, numa vida de mentiras.
Somos seres únicos, anormais, disfarçados de
gente comum, usando máscaras a todo tempo. Quanto mais
maduro é o espírito, mais você reage, observa e
tentar impor o que é natural à sua alma, mais você se
livra das máscaras, mais você se torna “esquisito”
socialmente. Amadurecer em espírito significa, em
linhas gerais, livrar-se do ego, permitindo que a
verdadeira alma se manifeste.
A vida é um tremendo jogo de imagens. Vemos
monstros fora de nós e acabamos por encontra-los
dentro. Experimentamos a nós mesmos nos outros.Achamos
que a imagem que fazemos das coisas exprime a realidade.
Vemos uma pequena fração e entendemos que seja o todo.
Somos juízes dos outros, porque reconhecemos este
“julgar” em nosso interior, ou seja, procedemos com
os outros da mesma forma que procedemos com nossa própria
pessoa.
Queremos
ser juízes do próximo e para isso fazemos uso da crítica,
isso nos torna aparentemente poderosos, faz com que
momentaneamente em nossa ilusão, nossos problemas
desapareçam ou fiquem infinitamente menores.
Alimentamos nosso juiz, julgando e criticando o outro.
Os
juízes internos e externos são responsáveis pela
formação da nossa auto-imagem. Quanto mais nos
sentirmos culpados e condenáveis, mais agiremos e
mostraremos em nossas atitudes um pano de fundo de baixa
estima. À medida que permitimos que esta parte de nosso
ego se mostre mais eficiente, mais teremos uma imagem
pequena, restrita, acanhada de nosso ser, tornando-nos
pessoas limitadas em ações e vivências, permeando
numa mesmice angustiante, pois dentro de nós, alguma
coisa clama por liberdade.
Outra
entidade criada pela sociedade é o “coitado”, filho
mais novo do Juiz . Este ser, tão pequenino, tão
pobrezinho, tão indefeso, vive sentindo-se vítima de
tudo e de todos. Não é capaz de olhar para si,
assumindo responsabilidades por seus atos, sentindo-se
muito pequeno em relação aos demais, pois é
conveniente existir “vítimas” na sociedade, para
que ela possa parecer justa.
Há
aqueles que se acomodam e se acostumam a viver na
escuridão. Há mesmo quem se ajeite em viver
aparentemente feliz na infelicidade, quem faz da miragem
uma realidade, mesmo sabendo que aqueles castelos são
feitos de areia. Passam assim por várias vidas dormindo
em plena existência, optando, mesmo sentindo-se
angustiado, pela segurança em lidar com a dolorida ilusão,
que pelo menos lhe é conhecida.
Enfim,
todos nós temos ao nosso alcance o poder de escolha e
isso nos pertence.
Podemos
passar por muitas vidas, permitindo que o juiz e demais
outras facetas do ego interfiram em nossas vidas sem
nunca questiona-los e observa-los. Não há mudança
real sem observação. Não é possível manifestar
nossa essência, alimentando consciente ou
inconscientemente nosso ego.
O caminho para o desaparecimento do ego é uma
noite escura, é uma via sacra. É preciso romper os
muros da falsa segurança que o ego construiu e lançar-se
no desconhecido caminho do autoconhecimento. Sem esse
trabalho interior, continuaremos a viver como marionetes
na sociedade, sendo comandados, manipulados por um ou vários
grupos sociais que nada tem a ver com a evolução do
espírito e muito tem a ver com os próprios interesses
em manter regras absurdas do “bem viver”.
Ladis
(Pietra)
Voltar
a pagina inicial
|