Hoje eu vou falar de Ti, meu
Senhor.
Chegaste tão docemente em minha
vida, retirando-me da clausura da solidão,
porém não consigo lembrar-me do
nosso primeiro encontro.
Não foi propriamente um encontro,
hoje sei, pois sinto que sempre estiveste
presente, aguardando o meu
despertar.
No principio eu não sabia que Tu
podias curar-me as feridas do coração e
apesar da grande alegria que
experimentava com a Tua chegada,
entristecia-me saber que não
poderias ficar comigo.
Mas Tu sempre voltavas, fazendo-me
compreender estares preparando-me para
uma união eterna. Como exulto,
Senhor, a esperar a ventura desse dia !
Agora, quando Te vais, já não me
aflijo tanto, porque o perfume da Tua
presença se demora comigo.
Outra coisa me ensinaste, Senhor :
ir-Te ao encontro e não apenas
esperar-Te no conforto do meu
egoísmo.
Comecei a buscar-Te no sorriso dos
despreocupados, na voz dos que apenas Te
anunciavam, mas só pude
encontar-Te, Senhor, nos olhos dos aflitos, no
descontrole dos amedrontados, na
impotência dos desvalidos, na frustração
dos arrependidos, na minha
própria dor, que misturei à dor dos meus irmãos.
Meus Senhor, hoje sinto
necessidade de clamar que Te Amo, mesmo
reconhecendo que o Amor que existe
em mim é a expansão do Teu Amor
fecundando a Terra toda.
Tu hás de santificar este meu
afeto para que eu possa doar-me sem exigências.
Tu porás beleza em meus olhos, a
fim de que eu possa ver em toda parte os
reflexos da Tua grandeza.
(João Neves da Rocha)