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O Trabalho com os Sonhos

  Por: Luís Vasconcellos

É preciso reconhecer o valor e a importância do estudo dos sonhos e estimular a descoberta de sua praticabilidade e pertinência enquanto fornecedor de referências e informações quanto ao estado psicológico do sonhador e dos processos que estão ocorrendo, entre o consciente e o inconsciente, face os desafios e exigências da vida de vigília.

Os sonhos têm sido objeto de estudo em todas as épocas, mas seu maior valor se dá quando o conteúdo é acolhido (entendido, compreendido, aceito) pela consciência do próprio sonhador. Neste sentido constituem um estimulante desafio para qualquer um que esteja à procura de conseguir autoconhecimento.

Como atividade autônoma e espontânea do Inconsciente, seus símbolos e representações constituem inestimável ajuda no re-estabelecimento de uma ponte de conexão entre o Ego Consciente e o Inconsciente.

Na infância esta ponte é muito freqüentemente usada e, depois, com a aculturação do adulto na direção da fixidez, repetição e rigidez de um “piloto automático” confiável, torna-se cheia de “ruído de comunicação” e/ou reprimida.

O estudo dos sonhos deve ser realizado com muita consciência ética e com responsabilidade, particularmente quando atingimos a possibilidade de interpreta-los para o sonhador, tarefa esta que só deve ser tentada por pessoas esclarecidas e treinadas, respeitando-se os padrões éticos mínimos e a sobriedade nas interpretações oferecidas.

No sentido popular qualquer interpretação é válida, contudo, se afeta o sonhador e, se o afasta ou o aproxima da conexão com o Inconsciente, então devemos ser cuidadosos com o que falamos e com as maneiras, às vezes muito inapropriadas, com que nos referimos aos sonhos da pessoa.

A interpretação de um sonho afeta o equilíbrio do sonhador com o seu inconsciente e só deve ser realizada, com profundidade, por aqueles que entendam tanto o alcance quanto o limite que pode ter esta intervenção interpretativa:

- O sonhador é o centro de decisão e o único que pode, livremente, fazer alguma coisa a partir do entendimento do simbolismo presente em seu sonho.

- Sonhos encontram o melhor de seu sentido na vida individual do sonhador. Generalizações em torno dos seus significados (para a vida de outros sonhadores) são impróprias.

- Cabe ao sonhador se exercitar em associações e descobertas do sentido e pertinência dos conteúdos e representações de seu sonho.

- A função de quem interpreta ou traduz um sonho é estimular estas descobertas e intensificar a relação de compreensão entre o consciente do sonhador e os conteúdos espontâneos do seu inconsciente. Neste sentido e nesta direção é que são interpretadas as imagens, sensações, situações e personagens presentes no sonho.

- O sonhador é estimulado a ter uma experiência mais plena da intensidade e do sentido de seu sonho em sua vida. Lembrando que não é por acaso que alguém sonha com este ou aquele conteúdo em um determinado dia, ciclo ou fase da vida.

- A simples compreensão adequada do conteúdo de um sonho tem efeito na dinâmica consciente / inconsciente e pode afetar o equilíbrio e a natureza desta relação em um dado momento.

- Todo e qualquer sonho pode ser alvo das mais variadas e diferentes abordagens e interpretações.

- O preparo técnico e ético do interpretador cumpre importante papel, porém não elimina a possibilidade do engano e do mau julgamento de um sonho. Neste sentido é de suma importância que o interpretador esteja consciente e seguro tanto quanto aos seus limites quanto aos seus horizontes de possibilidades. Neste sentido a sobriedade e a parcimônia são virtudes preciosas e imprescindíveis.

- Se o sonhador exige privacidade e respeito ao conteúdo dos seus sonhos estes jamais poderão ser alvo de discussão em qualquer outro ambiente sem que sejam retirados dos conteúdos do sonho toda e qualquer menção ou referência que possa identificar o sonhador.

- A interpretação de um sonho pode ser componente essencial em uma psicoterapia, mas a interpretação de um sonho em outras situações não tem, necessariamente, efeitos terapêuticos.

- A interpretação sofre efeitos do condicionamento cultural e social do interpretador e assim também de sua subjetividade. Em assim sendo, a interpretação deve ser focada no cliente e o sonho deve ser visto com referência à situação e à experiência de vida do sonhador.

- O interpretador deve ser prender ao que é relatado e jamais fazer inferências, projeções ou associações de caráter pessoal sobre o conteúdo relatado. Em caso de necessidade ele deve solicitar ao sonhador maiores informações, associações ou um relato mais pormenorizado.

- Conseguir aumentar a conscientização dos conteúdos dos sonhos pode ser entendido como o propósito geral do trabalho com os sonhos. Este aumento de compreensão ocorre tanto para o interpretador quanto para o sonhador.

- Não há conteúdo “certo” ou “errado” em um sonho. Em um sonho nada “deveria” ser diferente do que foi.

- O conteúdo básico de um sonho deve ser defendido, inclusive e também, das inferências e deduções, julgamentos e considerações posteriores do próprio sonhador.

- O interpretador deve estar consciente e informado quanto ao mecanismo, processo e função do sono, tanto quanto do sonhar.

- Cada sonho deve ser interpretado considerando-se, no mínimo, sexo, idade, estágio de desenvolvimento, cultura e amadurecimento do sonhador. As interpretações devem ser sintonizadas e adequadas a estas características pessoais do sonhador.

- Não tem valor algum fazer uma interpretação “madura” de um sonho para um sonhador que apenas anos mais tarde terá maturidade para entende-la.

- A interpretação deve ser dirigida ao entendimento e assimilação do sonhador, só quando ela ocorrer o trabalho é considerado realizado, custe o que custar em termos de esforço, maleabilidade e até de repetição por parte do interpretador.

Aculturação:
Piloto automático
Ponte de Conexão com o Inconsciente

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